Mitologia Iorubá

Na tradição Iorubá, o universo é dividido em duas grandes dimensões interligadas:

  • Orun (Ọ̀run) → o mundo espiritual, invisível, onde habitam os Òrìṣàs, ancestrais, divindades, espíritos e também o Supremo Criador, Olódùmarè.

  • Ayé → o mundo físico, material, habitado pelos seres humanos, animais, plantas e tudo o que existe na Terra.

Essa dualidade não é separação absoluta, mas uma relação dinâmica e constante. Ọ̀run e Ayé são como reflexos um do outro: tudo que acontece em um repercute no outro.

A Criação do Mundo

Segundo os mitos, Olódùmarè (Deus supremo) confiou a Obàtálá (Oxalá) a missão de criar o mundo físico.

  • Obàtálá desceu do Orun até o espaço vazio levando um saco de areia, uma galinha de cinco dedos e uma corrente dourada.

  • Ele espalhou a areia sobre as águas primordiais e soltou a galinha, que começou a ciscar e espalhar a terra, formando os primeiros continentes e terras firmes.

  • Esse ato deu origem ao Ayé, o mundo material.

Por isso, diz-se que tudo que existe em Ayé tem sua contraparte em Orun.

A Conexão entre Orun e Ayé

  • Os humanos vivem em Ayé, mas suas almas (èmi) vêm de Orun.

  • Antes de nascer, cada pessoa vai até Ajala, o moldador de destinos, no Orun, e escolhe o seu Orí (cabeça/destino).

  • Esse Orí define os caminhos, desafios e potencialidades da vida no Ayé.

Quando morre, o ser humano retorna ao Orun para prestar contas e continuar sua jornada espiritual.

Os Habitantes de Orun

O Orun não é homogêneo: ele possui diferentes níveis e reinos.
Entre eles:

  • Òrun Rere → o “bom céu”, morada dos justos, ancestrais honrados e de quem viveu em harmonia.

  • Òrun Apadi → o “céu dos cacos”, associado ao esquecimento, às almas perdidas e sem culto.

  • Òrun Àṣà → morada dos espíritos dos que não cumpriram seus destinos.

  • Òrun Afèfé → reinos intermediários, onde transitam espíritos em evolução.

Cada Òrìṣà (orixá) tem também seu domínio dentro do Orun, refletindo sua atuação no Ayé.

A Dinâmica Orun Ayé

  • O culto aos Òrìṣàs, ancestrais e divindades é a ponte entre Orun e Ayé.

  • Os rituais, oferendas e rezas permitem que as energias fluam entre os dois mundos.

  • Os Babalawos (sacerdotes de Ifá) e os Iyalorixás/Babalorixás (sacerdotes dos Òrìṣàs) são os responsáveis por interpretar os sinais do Orun no Ayé.

Dessa forma, tudo que se manifesta no mundo material tem uma origem espiritual.

O Ciclo da Vida

  • Nascimento → a alma desce do Orun para o Ayé, trazendo consigo seu Orí e missão.


  • Vida → no Ayé, o ser humano vive experiências que testam seu destino, em conexão constante com os Òrìṣàs e ancestrais.

  • Morte → a pessoa retorna ao Orun, para se reunir aos ancestrais e, possivelmente, reencarnar, reiniciando o ciclo.